Poema em argamassa

Quero edificar-te verso a verso em claridade,
como se fosses feita de ladrilho e cimento.
Construir um bairro inteiro nessa cidade,
na ânsia de dentro de ti viver cada momento.

Quero a volúpia desse corpo que não tive,
nele descansar ao fim de cada dia de labuta,
Ao edificar esse subúrbio que em ti vive,
sonhos que a nossa argamassa une a cada luta.

Só me falta que tu sejas feliz dentro de mim,
neste espaço acanhado em que te quero,
com esse passo longo que és tu assim,
nesta metrópole feita de carpir em que espero.

És mulher dum só destino arquitectado,
feita de aço, pedra e materiais nobres,
onde nem os sonhos pecam por serem pobres,
nem eu como desditoso construtor afadigado.