Impulso de carinho

“Sei que tu és capaz!”
Olha-me nos olhos e diz-me isso,
com esse olhar tão doce e sereno,
talvez eu assim fizesse caso.
Desata o que me resta do impulso de rapaz,
apertando-me num quente e ameno abraço,
Porque preciso de aconchegar esta flor no vaso.

“Tens um potencial tão grande,
mesmo dentro dessas noites oprimidas.
Teimoso, sai dessa, olha o amanhã…que se ensarilha!”
Os sonhos são feitos assim, de manhãs inquietas.
Bebe um trago de saudade… Anda, sorri,
monta nesse cavalo louco que tens em ti,
põe aquela espora de prata, que tanto brilha”

Deixas-me um sorriso nos lábios,
ao empurrares-me a vida pr`á frente,
quando ela teima em ficar pra trás.
Porque não me deixas de ânimo acanhado,
cabisbaixo, pensativo, estupidificado?
Porque teimas em me dizer essas coisas assim,
desse modo provocador e pertinaz?

Queres ver o ser humano inteiro?
Queres sentir a sensação do que fizeste?
Avancei e no fundo do abismo vi um sorriso...
...era teu, tu sabes que sim
e que o sorriso era pra mim.
Sorrindo ao poeta, como quem sorri ao menino,
fizeste num impulso o que eu assino.

Este modo que me mostras é angústia,
são mutismos e suturas desta vida,
que eu teimo em deixar ao vento.
E livre, solto como a pomba da paz,
acabrunhado e mudo como um sagaz,
sou nesta pele de angústia vestido,
mas na fleuma do meu contento.

Conversa estúpida, sem nexo,
palavreado de quem não sonha mais...
...nem de mãos dadas,
são estas ideias comungadas.
Teimas e tonturas de ser complexo,
frémito louco e adverso,
de quem já nada quer, nem ais.